quinta-feira

Desabafos ...

O Partido Comunista Português é um exemplo paradigmático, face ao discurso democrático que apregoa e as evidentes dificuldades de prática democrática. Temos por isso assistido ao afastamento, e ao abandonar do barco de todos aqueles que dentro do PC, ousam pensar.

Temos presente na nossa memória os casos mediáticos mais recentes de saídas do Partido Comunista, como Luísa Mesquita, ou em termos autárquicos, os casos de Alfredo Barroso, presidente da Câmara do Redondo, ou mais recentemente, com declarações bem vincadas sobre as raízes e estrutura do PCP, o presidente da Câmara de Sines, Manuel Coelho, que veio a público revelar que o PC está “esclerosado” e é reaccionário.

E concretizou dizendo que “o partido está impregnado de um conjunto de características típicas de organizações dogmáticas, com disciplina de caserna, o que o torna numa organização estalinista, envolvidas num discurso pretensamente progressista, mas de facto retrógrada”.

Isto não é novidade, aliás aquando do último congresso, em que o PCP tentou passar uma imagem de renovação, mais não foi do que um esvaziamento e afastamento de todos aqueles que dentro do partido produziam “pensamento”, e que possibilitaram no passado, coligações de sucesso, por exemplo como a que ocorreu na CM de Lisboa, hoje bastante difícil.

Homens como João Amaral, José Saramago entre outros, são hoje figuras que a actual estrutura directiva do Partido Comunista não considera.

Mas Manuel Coelho diz ainda que sai do PCP porque está exausto de ser vítima de “sucessivas práticas de cerco e tentativas de obstrução a tudo o que não esteja de acordo com os cânones do partido”.

Não posso no entanto cingir-me única e simplesmente ao PCP, visto que ainda este fim-de-semana se assistiu a algo semelhante na estrutura que se designa partidária e que dá pelo nome de Bloco de Esquerda, que afastou da sua direcção Joana Amaral Dias, curiosamente, a mandatária da Juventude da candidatura de Mário Soares à Presidência da Republica.

No distrito de Portalegre, existem 3 Câmaras eleitas pelo Partido Comunista, são elas: Avis, Monforte e Nisa, nas quais facilmente identificamos as mesmas causas castradoras que Manuel Coelho denuncia, ou seja, quem governa estes 3 concelhos é a organização estalinista, anti desenvolvimento, os “controleiros” (entre aspas).
Quem votou nos candidatos da CDU não votou efectivamente nos candidatos do concelho. Votou sim em funcionários políticos do PCP que nada têm a ver com os interesses dos respectivos concelhos.

Percebe-se de forma clara e diria quase descarada a pouca influência governativa dos actuais presidentes destas respectivas câmaras, que mais não são do que três elementos que sobrevivem ao sabor dos interesses do Partido e dos respectivos “controleiros”.

A verdade é que o PCP prolifera na desgraça e não no desenvolvimento.

A verdade é que o PCP entende que é dono das coisas, e todos os seus militantes devem ter uma subordinação cega e acéfala às estratégias nacionais.

Uns aceitam e mantêm-se no partido, outros, não se resignam e saem. Foi o caso de Manuel Coelho, o mais recente caso conhecido, mas não o último… muitos outros com espírito independente e verticalidade, nas acções e coerência entre as palavras e os actos surgirão.
Os eleitores já estão fartos de votar em meros paus mandados e por tal, em Monforte, Nisa e Avis, poderá haver mudanças que certamente só trarão benefícios para as populações.
Conceição Grilo

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