Incrédulos, somos obrigados a
reflectir. Querem sanear as nossas Freguesias rurais. Mas essa reflexão nem tem
que nos levar a tempos demasiadamente idos. Quem entrou em período educativo no
pós 25 de Abril, desde logo veio a saber que o seu Distrito de Portalegre era o
da cauda do país em várias vertentes. Um Distrito com limitações de população,
de desenvolvimento, de recursos básicos, de infraestruturas, de referências
sólidas junto do poder. Mas, ao mesmo tempo, e com o avançar da idade, se veio
a descobrir o quanto as suas gentes viviam com uma positividade verdadeira, simplicidade
e humildade, mas também defensoras da sua identidade e com uma educação e um
respeito únicos, transmitidos pelas gerações anteriores, onde a voz destes era
sentida como a razão, resultado da experiência da vida.
Tanto
no resto do país como aqui, resolveram agora pôr em causa as comunidades que
foram criadas pelas nossas várias gerações. Em nome de visões falsamente
economicistas, põem-se em causa estruturas seculares, tratando as pessoas como
ingénuas e sujeitas à sorte da mordaça. A Proposta de Lei n.º 44/XII – Reorganização Administrativa Territorial
Autárquica, resultante do Livro (negro) Verde, é um atentado às gentes mais
distantes do litoral. O ser humano, de uma forma particularista e egoísta,
passou a representar um mero número, aos olhos de alguns e dos que os envolvem.
Políticas claramente identificáveis ideologicamente e que têm um objectivo
social muito mais vasto.
No nosso caso, estão a atingir valores que conquistamos com afecto, e
estamos a deixar, ainda que este Distrito nunca tenha transmitido ser um
exemplo nacional de união em relação a todos os outros. Desde a Amieira do Tejo
a Vila Fernando, de Santa Maria de Marvão a Cabeço de Vide, ou dos Mosteiros a
Montargil, há gente da nossa que nunca se cruzou, nem sabe como sentem ou vivem
os seus correligionários. E para não ajudar, temos os egocentristas do
Distrito, que só sabem olhar para o seu umbigo, e que até nas instituições onde
se inserem ou representam, procuram guerrilhas propositadas para atingirem os
seus objectivos intrínsecos de forma mais célere. Não será com promiscuidades
bairristas, com ou sem elementos na diáspora, que um dia chegaremos onde
merecemos, nem serão homens incansáveis na defesa do Distrito que, sozinhos,
farão chegar a sua voz ao centro do poder.
É por esse mesmo motivo que, contemporaneamente,
deveríamos ter vozes de consenso, que soubessem transportar o que sentimos, uma
vez que somos cada vez menos e estamos ávidos de quem mais nos defenda.
Engane-se quem pensa que isso está só destinado a quem nos representa
politicamente. Estamos muito dispersos e por isso somos um alvo fácil. Temos
Espanha logo ao lado, o Tejo e a Beira, e o resto do Alentejo. Somos únicos.
Mas precisamos de o transmitir para o exterior, o que não será só pela actual
conjuntura que tanto nos atrofia.
Dia 31 de Março, as Freguesias portuguesas vão
fazer ouvir a sua voz entre o Parque Eduardo VII e o Rossio, em Lisboa, por
iniciativa da ANAFRE - Associação Nacional de Freguesias. O Distrito de
Portalegre deverá estar condignamente representado em toda a sua diversidade,
transmitindo que temos gosto em quem somos, alentejanos de raça, com as nossas
próprias qualidades e recursos únicos. Sabemos que nem todas as Juntas de
Freguesia estarão muitas preocupadas com o assassinato de algumas outras, mas
só todas “juntas” farão o retrato fiel do Distrito de Portalegre.
Publicado no Jornal Distrital "Alto Alentejo", em 28 de Março de 2012
Publicado no Jornal Distrital "Alto Alentejo", em 28 de Março de 2012
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